Caixão pro Billy (Fernando Bastos)

Estávamos eu e um amigo conversando sobre gírias de nossa época, isto é, do século passado. Concluímos que a maioria das expressões, antigas ou atuais, não tem origem na região – foi importada de outras terras, de modo que os haoles que gostam de tirar uma palha de nosso jeito de falar, não sabem que muitas vezes nossas gírias vieram de outros lugares. É isso aí papudo.

A antológica Caixão pro Billy, usada quando algo deu errado é própria do manezinho de Florianópolis. É mole pro gaiteiro só podia ser dos gaúchos. Há no entanto, algumas gírias criadas aqui. Por exemplo, “não é vasel” – homenagem a antigo político jaraguaense – significa que algo não é fácil. Não achamos a origem de outra famosa de nossa época: “meu pau do Lelo”, que se referia a algo espantoso. Expressão sem nenhum teor de malícia ou que fizesse uma senhorinha de 80 anos ficar corada.

Por curiosidade, escrevi para meus contatos solicitando que me enviassem gírias conhecidas entre nós e, para meu espanto, saltaram em minha caixa de e-mail mais de 50 expressões “jaraguaenses”.

Eis algumas: Susse no musse – vamos ir – meu caneco! – fica frai, não descabelai – foi lá pra caixa prego – tomá no óschla – uh, seu corno! – é o demonho mesmo – vai caximbar formiga – eu dii (eu dei) – vai toda vida reto – pega asisquerda e depois asdireita – todo mundo xunto reunido – tem xente, uma veiz – capaiz! – meu bonje (forma sincopada de Meu Bom Jesus) – do tempo do Epa…

Quanto a minha conversa com o amigo em questão, uma dúvida nos corroeu. Até agora não sabermos se Billy e Lelo existiram. O que ficou foi que concordamos: caçoar do modo de um povo falar é não entender que cada região tem sua maneira peculiar de dizer as coisas, e sem dúvida, nosso Vale tem um rico e saboroso menu de expressões graças aos imigrantes que aqui desembarcaram e aos “estrangeiros” que fazem dessa terra um lugar especial de se viver.

Fernando Bastos, cartunista e escritor

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4 respostas para Caixão pro Billy (Fernando Bastos)

  1. Vana disse:

    Legal para jaraguaenses. Não entendi nada. rsrs
    Mas também não entenderias nada se te falasse assim:
    NUANCES
    Auto retrato

    Cavaleira bagual
    neste mundo inválido.
    Ovelha tosquiada no verão da mentira
    Entranhado num agosto bifurcado.
    Solitário portal,
    tordilha égua.
    Mede a palmos campos imensos:
    erro, engano,
    lida do impossível.
    Controlada por recau imposto,
    Luzidia de pelo, guasca de alma.
    Soflagrante na poesia solta.

  2. Augusto disse:

    Querida Ivaniza, não insulte a inteligência dos jaraguaenses.
    Pode não ter entendido, mas isso não quer dizer que não posso eu entender o seu poema gauchesco.

    • Vana disse:

      Desculpa, sei que o sentido todos entendem, era só ilustrativo das diferenças regionais, reforçando a visão do colega. Eu não entenderia muitas expressões de jaraguaenses e não teria vergonha nenhuma de rir de mim.

  3. Fred Paiva disse:

    ahmeopao

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